A Classe Médica Clama por Respeito!!
29 de Agosto de 2016
Infelizmente a situação atual do país faz com que os médicos sejam os culpados por todos os problemas sociais do Brasil.
Ninguém mais busca responsabilizar gestores e políticos pelo caos que vive a saúde pública.
Todos afirmam categoricamente que o culpado de tudo é do médico que só pensa em dinheiro, não cumpre sua jornada, falta aos plantões, deixa dezenas de pacientes nas filas sem qualquer respeito.
O que todos não sabem – ou pelo menos deixam de saber – é que os médicos brasileiros são as verdadeiras vítimas deste Estado falido, respondendo na linha de frente pelos combates diretos com a população.
Como a população não tem acesso direto ao prefeito, Governador ou presidente e seus respectivos secretários e ministros, eles atacam os médicos que estão nos postos de saúde, hospitais e outros locais de atendimento, já que são eles os funcionários públicos acessíveis à população.
É verdade que vários problemas pioram a saúde pública como um todo. É verdade que faltam médicos nas escalas de Plantões. É verdade que faltam medicamentos. É verdade que faltam leitos. É verdade que as condições atuais do sistema de saúde são precárias e desumanas.
Porém é verdade também que o salário dos médicos não chega a 1/5 dos salários dos políticos, e que para aumentar a renda e dar condições de sobrevivência a sua família, o médico tem que passar 24 horas de plantão, durante 7 dias da semana, nos 30 dias do mês.
É verdade também, que o médico precisa atender várias unidades quase que simultaneamente, porque algum gestor de saúde foi inteligente o suficiente para escalar seu nome em várias unidades ao mesmo tempo, tão somente para mostrar para a mídia e população, que havia médico escalado, mais foi este que faltou, então passa a responsabilidade ao médico em se justificar pela sua ausência.
É verdade também que faltam leitos e os médicos têm que evitar as internações, pois atualmente é mais seguro que o paciente permaneça em sua residência, do que ficar nos corredores dos hospitais correndo risco de infecção hospitalar.
É verdade também que a falta de leitos não é culpa dos médicos, mas dos gestores que preferem fechar leitos, a ter que contratar novas equipes de saúde.
Os médicos são pessoas de bem, e igual a população em geral gostaria de ver seus impostos bem aplicados, gostariam de trabalhar em locais com dezenas de leitos, com equipamentos de primeira geração, com funcionários felizes, com novas equipes de profissionais capacitados.
Os médicos gostariam de deixar seus pacientes internados, nem que fosse apenas para observação, pois assim poderiam dar um melhor diagnóstico. Gostariam de oferecer medicamentos além da dipirona e do soro, porém nas unidades não tem mais nada, além do básico (quase nada).
Exigir comportamento diferente dos médicos, não é erro da população, contudo, antes de exigir dos médicos, é preciso exigir dos políticos e seus secretários/ministros investimentos na área da saúde.
Não basta criar factoides no sentido de iludir a população, divulgando a redução nas filas, redução de índices, reformas de unidades, sem demonstrar para a população que houve reais investimentos, como aplicação do número de leitos, aplicação das UTIs, contratação de novos profissionais, aquisição de equipamentos novos e modernos.
É preciso esclarecer que não basta divulgar na mídia que novos profissionais foram contratados, quando em verdade omite da população que outros se aposentaram ou deixaram o serviço, sendo que as contratações (apresentadas como investimentos), em verdade não passam de suprir as ausências daqueles que deixaram o serviço público.
Quando um político afirma que contratou um número de pessoal para atender uma demanda na saúde, pergunte ao mesmo quantos servidores deixaram o serviço nos últimos anos.
Quando um político afirmar que ampliou o número de leitos, pergunte aos mesmos quantos foram fechados.
Quando um gestor afirmar que houve aquisição de novos equipamentos, pergunte quantos equipamentos quebraram nos últimos anos.
Em verdade, atualmente NINGUÉM investe na saúde pública, mais apenas contrata pessoal para suprir aqueles que deixaram o serviço. Compram novos equipamentos, apenas para suprir os que estão sem uso. Fazem reforma de unidades de saúde, mas fecham outras unidades.
Em resumo tudo o que se mostra nas propagandas institucionais, não passam de ilusões ao eleitor e à população, sendo que há décadas não é feito qualquer tipo de investimento real na saúde pública.
É preciso respeitar os médicos seja nos seus direitos, seja para com sua dignidade pessoal e profissional, quem deve ser cobrado não são os médicos mais os gestores e políticos brasileiros.
Campo Grande, 29 de agosto de 2016.
David Frizzo
Conselheiro Jurídico – ADDM Associação de Defesa dos Direitos Médicos